Counterparts: A Reinvenção do Rush nos Anos 90
Áudio completo do nosso quadro na rádio 92 Fm no Rock Resenha a respeito de Counterparts
O álbum *Counterparts*, lançado em 1993, marcou um ponto de inflexão significativo na carreira do Rush. Após a experiência com *Roll the Bones*, a banda decidiu retornar a uma sonoridade mais crua e orgânica, inspirada pelo movimento grunge que dominava a cena musical da época. A produção ficou a cargo de Peter Collins, que já havia trabalhado com o Rush em *Power Windows* e *Hold Your Fire*. Collins trouxe uma abordagem mais direta e menos polida, alinhando-se com a visão da banda de criar um som mais pesado e autêntico. Kevin “Caveman” Shirley foi o engenheiro de som, conhecido por sua preferência por gravações analógicas e sons robustos.
A Escolha de Peter Collins e Kevin Shirley (Caveman)
Uma pergunta relevante a ser feita é: por que a decisão de se trabalhar novamente com Peter Collins (falecido em 29 de junho de 2024) já que sua especialidade era na produção de músicas pop, estilo que a banda em três décadas de carreira parecia ter aversão? (veja aqui no instagram do Rush o relato sobre o falecimento de Peter Collins). Collins é responsável direto pela tão -bem ou mal falada- fase dos teclados do Rush. Pois bem, durante seu tempo afastado, Collins havia produzido álbuns de peso, como *Hey Stoopid* de Alice Cooper e *Operation: Mindcrime* do Queensryche. Seu sucesso com essas bandas de rock reconhecidas fizeram Geddy, Alex e Neil entenderem que ele era o profissional certo para capturar performances cruas e energéticas na década do grunge. Alex Lifeson disse:
“”Eu me senti mais confiante comigo mesmo e com meu jeito de tocar ao longo dos anos 1990, e acho que mantive um posicionamento mais ousado dentro do contexto mais recente da banda. Tem muito a ver com confiança e respeito uns pelos outros. E tanto Ged quanto eu temos muito respeito e confiança um pelo outro. Com o passar dos anos, fomos trabalhando nisso, como acontece com qualquer relacionamento. Acho que, quando compomos, quando gravamos, nos sentimos 100% seguros do que está acontecendo com o álbum. Sabemos que podemos deixar o estúdio e tudo vai ficar ótimo.”
As sessões de gravação de *Counterparts* foram intensas e desafiadoras. Alex Lifeson e Kevin Shirley tiveram que encontrar um equilíbrio entre a crueza desejada e a clareza necessária para destacar cada instrumento. Geddy Lee, por sua vez, teve que se adaptar a um novo setup de baixo, utilizando um antigo amplificador Ampeg que Shirley encontrou em um armazém. Essa mudança trouxe uma nova profundidade ao som do baixo, complementando a abordagem mais pesada das guitarras. Neil Peart, sempre meticuloso, trabalhou em suas partes de bateria com uma precisão quase obsessiva, garantindo que cada batida contribuísse para a dinâmica geral do álbum. No documentário Beyond The Lighted Stage, Collins confessa:
“Vou ser honesto, eu nunca tinha ouvido falar do Rush na Inglaterra, e fiquei confuso quando me chamaram para produzir o álbum com eles – produtor Peter Collins no Documentário Beyond The Lighted Stage.
Faixas Destaque de Counterparts
Musicalmente, *Counterparts* é uma celebração das raízes do Rush, mas também uma exploração de novos territórios. Faixas como “Animate” e “Stick It Out” destacam-se pela energia bruta e riffs poderosos, enquanto “Nobody’s Hero” traz uma abordagem mais melódica e introspectiva, com arranjos de cordas de Michael Kamen. “Leave That Thing Alone”, um dos melhores instrumentais da banda, mostra a habilidade do Rush em criar peças complexas e envolventes sem a necessidade de vocais. Cada música do álbum reflete a dualidade que Neil Peart explorou nas letras, abordando temas como a luta interna entre o lado masculino e feminino e a busca por equilíbrio.
A turnê de *Counterparts* foi curta, mas intensa, abrangendo principalmente os Estados Unidos. A banda estava exausta após anos de gravações e turnês consecutivas, e a pausa de 18 meses que se seguiu ao lançamento do álbum foi essencial para a recuperação física e emocional dos membros. Durante esse período, Alex Lifeson trabalhou em seu projeto solo, *Victor*, enquanto Geddy Lee se dedicou à família e Neil Peart explorou suas paixões por viagens e ciclismo. Essa pausa permitiu que cada membro recarregasse as energias e voltasse com uma nova perspectiva para os projetos futuros.
Em retrospecto, *Counterparts* é visto como um dos álbuns mais importantes do Rush, não apenas pela qualidade das músicas, mas também pelo impacto que teve na trajetória da banda. Ele representou um retorno às raízes, mas também uma evolução, mostrando que o Rush ainda tinha muito a oferecer após duas décadas de carreira. A colaboração com Peter Collins e Kevin Shirley foi crucial para capturar a essência do que a banda queria expressar naquele momento, resultando em um álbum que continua a ressoar com os fãs até hoje.