My Effin Life – A Autobiografia de Geddy Lee

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Baixista, Vocalista do Rush lança seu livro com tradução feita em português

Por: Tânios Acácio

O Lançamento do Livro de Geddy Lee

Enfim chega ao Brasil pela Editora Belas Letras “My Effin Life” – a autobiografia do vocalista/baixista/tecladista do Rush – Geddy Lee, traduzida pela experiente gaúcha Candice Soldatelli, que fez também as traduções do livro de Neil Peart e do recente “Rush Através das Décadas” do crítico canadense Martin Popoff.

Sendo batizado como Gershon Eliezer Weinrib em homenagem ao seu avô, Geddy precisou enfrentar as dores da perda de Neil Peart e de sua mãe Mary para escrever o livro. Seu amigo (e escritor) Daniel Richler percebeu essa visível tristeza, e sugeriu que Geddy escrevesse contos engraçados de sua juventude. Pouco tempo depois de aceitar o desafio, ele percebeu que havia iniciado um livro de contos.

Importante sublinhar que o Brasil foi o primeiro país a ter a obra de Geddy Lee traduzida em língua não-inglesa, reforçando o impacto que o power-trio canadense tem em terras tupiniquins.

Logo após o término de sigilo do contrato, Candice resolveu (sabiamente) em seu perfil pessoal do Instagram fazer uma live para tirar dúvidas dos fãs, respondendo inclusive aos motivos que a fizeram em não traduzir para o português o título da obra “My Effin Life”. Ela entendeu que a tradução da palavra “effin” no inglês não contempla o mesmo sentido que o português. “Effin” é um eufemismo canadense com bastante ambiguidade para a expressão “f*ckin”. “Cheguei a pensar em colocar “A “f” da minha vida, mas achei que ficaria sem graça. Candi reforçou que optou por manter a “cor local” da expressão, ou seja, reforçar o sentido semântico autêntico, para que a tradução não ficasse agressiva. “Effin” soa de forma bem mais polida aos ouvidos, do jeito educado que os canadenses são.

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Geddy Lee na última turnê do Rush
Geddy Lee na última turnê do Rush. Fonte: richfury

Nunca Houve uma Banda como o Rush

Diante do tamanho da repercussão do livro, Geddy tem dado muitas entrevistas, sendo uma das mais completas a do Washington Post de novembro, intitulada: “Nunca houve uma banda como o Rush. Geddy Lee não quer esquecer isso“, com o subtítulo “Foi necessária uma série de perdas para o astro do rock de voz aguda confrontar sua história pessoal. Tudo saiu em seu novo livro de memórias“. Nessa entrevista, Geddy relata que tem saudades da banda. Ele diz: “Uma banda é como um casamento. Exceto que a maioria dos casais passa algumas horas separados todos os dias. Uma banda come junta, dorme junta e divaga junta de show em show naquele furgão enferrujado ou, quando a sorte bate, em um ônibus de turnê chique. E se essa banda tiver a sorte de conseguir um sucesso genuíno, as duras batalhas por dinheiro, crédito e fama podem romper a união tão brutalmente quanto um divórcio”.

Sucesso sem apoio da grande mídia. Geddy Lee, Neil Peart e Alex Lifeson no programa de humor norte-americano Colbert Report. Havia 33 anos que o Rush não aparecia nas telinhas.

O Rush teve uma carreira de sucesso longuíssima com 19 discos de estúdios lançados de 1974 a 2012 (com alguns hiatos é claro) – sem a necessidade de contar com o apoio mainstream da mídia.  O artigo enfatiza o propósito de precisão técnica da banda que experimentou muitas linhas de influência, com o uso de sintetizadores, e a coragem de alternar os compassos das melodias, com músicas longas de mais de 10 minutos inspiradas em poesias épicas de nomes consagrados da literatura. Geddy revela também ao repórter do Washington Post sobre dores vivenciadas na infância, quando algumas pessoas zombavam dele por causa do tamanho de seu nariz e brincavam que ele ia para a escola no “ônibus judeu”. Apenas quando ele se tornou amigo de Steve Shutt – uma estrela do hóquei no gelo – que o bullying enfim cessou. Ele também relembrou que aos 12 anos de Lee, seu pai Morris Weinhib voltou do trabalho com uma possível gripe. Lee se lembra de ter acordado durante a noite com os gritos de seu pai, que culminou com seu óbito após uma parada cardíaca. Nos 11 meses seguintes, o jovem Geddy Lee se viu ainda mais isolado socialmente, passando todos os dias na sinagoga para homenagear seu pai, em cumprimento à lei judaica.

Morris e Mary Weinrib após o casamento, em frente ao quartel do Campo de Deslocados de Bergen-Belsen, na Alemanha. Eles escaparam dos nazistas e dos campos de extermínio antes de se encontrarem. (arquivo Geddy Lee). Fonte: Washington Post

O Verdadeiro Milagre do Rush

Esse artigo reforça nossa percepção de que o drama vivienciado pelos pais no holocausto é um sustentáculo no pscicológico de Geddy Lee, como ele já relatou no programa Strombo em 2022 com Alex Lifeson: “fazer aquele música era uma espécie de salvação, uma forma de fugir de toda aquela “m3rd@ de pós-guerra”. Nessa entrevista ficou claro que o aprendizado dos percalços de seus pais foram fatores determinantes na construção ética de suas personalidades”. Allan Weinhib – irmão de Geddy Lee – que trabalhou com ele na produção dos espetáculos do Rush disse com precisão: “Esse tipo de impulso de sobrevivência ajudou Geddy a persistir. E ele teve muita sorte de conhecer parceiros que pensavam da mesma forma. Esse é o verdadeiro milagre do Rush.”

Quando Geddy Lee e Alex Lifeson perceberam sobre a gravidade da doença de Neil Peart

Geddy admitiu frustração com a hermeticidade de Neil em realizar apenas 30 shows na última turnê (R40) em 2015, optando por voltar para casa em vez de estender para a Europa. Lee estava confiante numa eventual volta aos palcos, até receber o e-mail devastador de Neil Peart revelando que tinha um câncer terminal. Geddy e Alex foram ao encontro de seu amigo Peart, Pratt ou “Peke”, como o chamavam. Aqui abrimos um parênteses com intuito de resgatar uma parte importante da obra de Neil Peart Ghost Rider – A Estrada da Cura que se relaciona a essa questão. Neil relata que fazia joguetes de palavras esquisitas e mirabolantes com Lifeson, chamado Moronese (ou “idiotês”). Inclusive, reforçamos que o insight metafórico para o nome do livro de Neil surgiu quando ele estava em sua moto a caminho da cidade-natal de Alex Lifeson, Fernie, e descobriu que lá havia um fenômeno de deslocamento das nuvens de montanha chamada “Ghost Rider”. Neil resolveu enviar um cartão-postal para Alex fazendo uso desses joguete de palavras “Mim ser u goust raider”. Veja aqui o trecho original do livro:

Trecho de moronese Ghost Rider - Portal Rush Brasil
Trecho de moronese Ghost Rider – Portal Rush Brasil

Na época, uma brincadeira muito saudável, no entanto, quando Geddy e Alex chegaram ao encontro do amigo, perceberam que Neil havia escrito”Baby”. Os muitos apelidos de Lee dentro da banda incluíam variações de Deke, Dirk, Dekey – mas jamais “Baby”, e isso deixou Geddy Lee profundamente abalado. “Ele está perdendo a vida, e estou observando suas células cinzentas diminuírem, e essa foi a mente mais incrível que conheci pessoalmente tão intimamente” – lembrou.

O ELEFANTE NA SALA – O RUSH VAI VOLTAR?

O ponto polêmico da entrevista foi quando Geddy Lee admitiu que poderia voltar a tocar com Alex Lifeson usando o nome Rush. Após as apresentações ano passado em homenagem ao Taylor Hawkins – ex-baterista do Foo Fighters – que morreu precocemente, Geddy afirma que na festa pós-festa, Paul McCartney os parabenizou e os incentivou a voltarem à estrada. “Era um assunto tabu, e tocar aquelas músicas novamente com uma terceira pessoa era o “elefante na sala”, e isso meio que desapareceu”, disse Lee. “Foi bom saber que se decidirmos sair, Alex e eu, quer tenhamos saído como parte de uma coisa nova, quer apenas quiséssemos sair e tocar Rush como Rush, poderíamos fazer isso agora.

Lifeson passou por uma cirurgia em julho devido a problemas estomacais de longa data. Ele está melhorando, mas ainda sente náuseas. “Ele precisa se sentir bem, saudável e forte”, diz Lee. “E então talvez tenhamos uma conversa a respeito.”

Em entrevista ao canal CBC News, Geddy Lee disse que costuma viajar aos quatro cantos do mundo com sua esposa, fazendo trilhas, e andando de bicicleta. Eventualmente quando não é reconhecido, e perguntado o que faz, se descreve como “um aposentado” ao invés de músico. Geddy Lee disse também que quando foi a primeira vez no show de seus ídolos Led Zeppelin, ficou próximo à banda, na segunda fileira, e teve a nítida percepção de que Jimmy Page flutuava pelo palco. A apresentação do quarteto inglês o fez mudar de percepção em relação ao rock. 

O entrevistador comenta com Geddy Lee em “My Effing Life”  que uma das coisas boas de escrever um livro, é que podem ser abordadas coisas que o incomodaram ao longo dos anos, como um mal-entendido das pessoas em relação a música “Free Will”.

“Sim, obviamente tenho muito orgulho dessa música, e ela diz coisas boas sobre  responsabilidade. No entanto, algumas pessoas tendem a ignorar alguns pontos, e usam a palavra “Livre-Arbítrio” (Freewill) como uma licença para fazerem o que quiserem, não importando o quão doloroso seja o ato, sem considerar as outras pessoas ao redor. (…) você sabe, claro, que existe livre arbítrio, vivemos em uma sociedade livre, podemos escolher como queremos viver e como queremos viver nossas vidas, mas há uma coisa chamada responsabilidade social que não pode ser ignorada. Alguns usam essa frase como desculpa para ignorar a responsabilidade social, e eu não sou esse tipo de pessoa”.

1ª NOITE DO LANÇAMENTO DE MY EFFING LIFE EM NOVA IORQUE COM BRASILEIROS NA PLATEIA

O lançamento oficial do livro de Geddy Lee ocorreu no último dia 13 de novembro, no Beacon Theatre em Nova Iorque, sendo o apresentador do evento, o ator Paul Rudd – protagonista do filme “I Love You, Man”, um grande fã declarado do power trio canadense. Rudd conversou com Geddy sobre os primeiros dias da banda, como o KISS lhes ensinou a terem postura profissional, e a experiência de Geddy ao ser demitido da banda, apenas para o convidarem logo depois de volta. Lee também relembrou de seus pais como sobreviventes do Holocausto, já que o antissemitismo é um assunto bastante atual, e leu trechos do livro, que incluem seu real nome de nascimento “Gershon Eliezer Weinrib”. Durante a seção de perguntas e respostas, Lee ficou emocionado quando questionado se ele continuava ouvindo as músicas do Rush. Em vez de responder, ele lembrou como Peart ouviu todo a discografia do Rush antes de sua morte em janeiro de 2020.
Além do livro, Geddy traz músicas novas para os fãs que foram compostas na época de seu álbum solo My Favorite Headache. “I Am You Are” – em homenagem a Selena Taylor – filha do Neil falecida em um acidente de carro em 1997 e “Gone” que trata de relacionamentos. Geddy confirmou que criou as canções a partir de demos antigas, e que elas estão incluídas no audiolivro do livro de memórias.

Se você estiver nos Estados Unidos ou no Canadá, pode ver a programação aqui.

Mauricio Carneiro na Rushcon 2023
Mauricio Carneiro com a organizadora Jillian Maryonovich da Rushcon 2023

Por fim lembramos que Maurício Carneiro, um dos organizadores da Rush Fest esteve presente na Rushcon – evento mais conhecido dos Estados Unidos dos fãs do Rush, e posteriormente foi até o evento assistir Geddy Lee em sua primeira apresentação. Faremos em breve uma live com Maurício, aguardem novas notícias.

Abraços com YYZ.

Tânios Acácio – Criador do Portal Rush Brasil.

Fonte:
Instagram de Candice Soldatelli
Washington Post
My FM Today
Ghost Rider – A Estrada da Cura
Canal no Youtube – Lisa DiEstefano
Rush.com

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