Pensando alto com Geddy Lee

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Recentemente a revista Prog (janeiro de 2016) realizou uma entrevista com o multi-instrumentista do Rush e ele relatou alguns acontecimentos importantes sobre sua vida, como as conversas dentro de casa sobre campos de concentração, sua sorte em estar vivo, seu primeiro “beck” com Alex Lifeson, a amizade com os criadores de South Park, muitos vinhos. Confira a entrevista.

Meus pais se conheceram num campo de trabalho nazista durante a guerra. Eles eram poloneses e nasceram com uma diferença de 45 minutos um do outro. Eles tinham aproximadamente 12 ou 13 anos quando a guerra explodiu.  No período em que os alemães chegaram à Polônia, os dois foram enviados para guetos, designados para campos de trabalho especificamente. Eles se conheceram enquanto foram enviados para esses campos, a fim de realizarem os trabalhos impostos pelos alemães. Depois, ambos foram enviados a Auschwitz e estavam apaixonados, mas, ao chegarem a Auschwitz, acabaram sendo separados. Meu pai fazia coisas como subornar guardas, como por exemplo, pedia para que os militares levassem sapatos para minha mãe.  

Depois de um certo tempo, minha mãe foi transferida para um campo de concentração nazista no norte da Alemanha chamado Bergen-Belsen e meu pai para Dachau em Munique, perdendo o contato até o fim da guerra. No entanto, ele a encontrou em Belsen, e se casaram por lá mesmo. Nessa altura, o espaço passava de um campo de concentração para o que eles denominavam de ‘campos de desabrigados’. Depois da libertação, minha mãe e meu pai foram transferidos para os alojamentos dos alemães.

O campo de concentração foi inteiramente queimado, numa atitude muito suspeita dos soldados ingleses – eles disseram que era por causa do tifo, mas na verdade, acredito que queriam se livrar daquilo de uma forma política. De qualquer maneira, eles conseguiram o status de imigração para mudar para a América do Norte, e acabaram chegando em Toronto, porque meu pai já tinha uma irmã que morava na cidade”.

“Minha mãe sempre foi muito aberta ao falar sobre a guerra comigo”. Crescemos ouvindo muitas das histórias da guerra em nossa casa, então era algo de certa formal normal para a gente. Eu sei que parece estranho e é algo que acaba plantando uma semente escura em sua persona, mas sou agradecido por ela tenha compartilhado essas coisas. Valorizo intensamente o que ela passou, e de como todos nós temos sorte de estarmos por aqui”.

Perder meu pai foi muito traumático – especialmente para minha mãe, pois ela o adorava. Ela nunca superou de fato para falar a verdade. A morte dele trouxe muito estresse para nossa casa, pois minha mãe precisava trabalhar todos os dias e minha avó teve que cuidar da gente. Também estávamos chegando no período daquela rebeldia natural de adolescente, e não havia ninguém por perto de fato para nos manter unidos. Minha irmã ficava cada vez mais rebelde, e eu me interessava por outras coisas fora da escola. Comecei a me interessar por música e por tocar numa banda de rock. Foi aí que conheci esse cara doidão chamado Alex Lifeson, uma má influência para mim – foi o primeiro cara com o qual fumei maconha. Assim, nossa família estava em pedaços, e tudo isso foi muito estressante para minha mãe. Mas ela é uma sobrevivente e tem um espírito forte. E conhecer Alex, obviamente, nos levou a formar o Rush, então, não foi tão ruim assim.

“Hoje em dia a indústria da música é muito diferente”. Voltando nos dias em que você assinava vários álbuns com as gravadoras, elas sabiam que poderia levar três discos para você estourar. Estavam dispostas a investir numa banda, já que se ela estourasse, venderiam vários de discos. Hoje em dia isso não acontece – a menos que você seja a Adele – sendo difícil para as gravadoras terem recursos para financiar muitas bandas. Então agora, você tem que fazer a porra toda sozinho, levando o trabalho todo finalizado para as gravadoras para que elas consigam vender. 

 Você tem que mais ou menos que se desenvolver – ou até mesmo ter um gerente que te ajude a se desenvolver antes de se apresentar para o mundo. Antigamente, era muito mais do que uma parceria”.

“O Cream foi a primeira banda que me fez ficar maluco”. Eu gostava do John Mayall & The Bluesbreakers naquela época também, mas, inicialmente, foram os Yardbirds, o The Who e o Cream que me deixaram louco por música. Implorei à minha mãe para que me comprasse o violão que meu vizinho estava vendendo e, quando coloquei minhas mãos nele, descobri que eu era muito bom em tirar músicas de ouvido. Foi um tipo de despertar para mim, pois finalmente encontrava algo no qual era verdadeiramente bom. Assim, comecei a tocar músicas de outras pessoas, logo após sentir que poderia fazer isso sozinho”.

“Os anos 70 foram muito emocionantes e divertidos para o Rush”. Éramos muito novos e inexperientes naquilo tudo – bastante inocentes para ser franco. Nossos dois primeiros shows foram como banda de abertura para o Uriah Heep e para o Manfred Mann’s Earth Band. Eles tinham muitos seguidores fanáticos, e ficávamos loucos com os acontecimentos que víamos. Tocamos os shows finais daquela turnê com eles, e no último eles jogaram tortas um na cara do outro – algo que eu achava que era normal no final de uma turnê. A gente tinha acabado de começar, e achamos que tudo aquilo uma imensa maluquice. Em seguida, fomos para duas longas turnês com o Kiss – que tratou a gente muito bem – e essa foi nossa incrível apresentação ao mundo do rock and roll”.

“A mudança do Rush como banda de abertura para a atração principal foi acontecendo ao longo dos anos”. Quando foi lançado o álbum 2112 em 1976, começamos como a principal atração em locais menores, principalmente no Canadá. Porém, ainda abrimos shows até 1977. Após fazermos “A Farewell to Kings” e “Hemispheres”, cimentamos o fato de que éramos “headliners” de locais pequenos. Ao liberarmos Moving Pictures, houve uma mudança enorme, além de um enorme acolhimento de outro grande número de fãs. Conseguimos seguir em frente por isso ter acontecido lentamente. O sucesso desse disco permitiu que a gente saísse das dívidas, gastando mais dinheiro para os nossos próprios shows. Era dessa forma que olhávamos para tudo isso”.

“Trey Parker e Matt Stone mudaram o poder da animação, que pode ser usada não somente para entreter, mas também para ridicularizar”. Eles fazem a política ser interessante para os mais jovens e, num país tão grande e diversificado como os Estados Unidos, têm sido um canal importante para essa geração. Igualmente nas oportunidades de ridicularizar, não se atendo apenas à direita ou à esquerda – qualquer hipocrisia é um jogo justo para esses caras. Neil conheceu Matt e Trey primeiro, tornando-se amigo de Matt quando se mudou para Los Angeles. Ele nos apresentou a eles – Matt, em particular, é um cara incrível, e também é um grande fã do Rush. Dessa forma, houve um tipo de apreciação mútua. Quando estavam fazendo o filme South Park, que teve aquela grande canção “Blame Canada”, eles queriam que fizéssemos o hino do Canadá. Sendo assim, eles entraram em contato com a gente e conversamos sobre o assunto. Nós fizemos e enviamos, e nos tornamos amigos desde então”.

O Rush é, definitivamente, uma banda polarizadora”. Eu acho parcialmente que é por causa da minha voz que é bastante aguda e incomum. As pessoas devem se aprofundar ou não conseguirão “sacá-la” – o tipo de música que fazemos é complicada e pode ser bastante chocante, devido às mudanças de compasso e pela sua natureza agressiva. Portanto, não é de fácil digestão e você tem que ter vontade de investir tempo e energia para tentar entender. Se você não tem essa disposição, não irá conseguir se aprofundar“.

“Adoro vinhos”. Não penso em investir em adegas e não levo muito a sério a ideia de produzir meu próprio vinho – é apenas um hobby e uma busca prazerosa. Sou um grande fã do Borgonha – principalmente o tinto – mas gosto também do Borgonha branco, dos vinhos do norte da Itália e os brancos da Áustria e da Alemanha. Mas meu predileto é o Borgonha. Gosto de hobbies que me levam a certos locais nos quais estou interessado, como regiões vinícolas – muitas vezes acabo indo para as mesmas. Tem sido algo muito bom para mim e para minha família – visitamos muitas partes da França como resultado da minha curiosidade com o vinho dessas regiões. É um bom passatempo para se ter, mesmo que possa ser um pouco caro e esbanjador”.

“É quase impossível pensar na minha vida fora do Rush”. Grande parte do que vivi nos últimos 40 anos foi como um membro do Rush. Fora da banda, tenho muito orgulho da minha família e dos meus filhos. Acho que fui um bom pai, pois sempre tentei estar presente em suas vidas mesmo quando estava na estrada. Sempre fiz tudo o que pude para manter meu casamento saudável, e isso é difícil quando se é um músico itinerante conforme fui por tantos anos. Todavia, minha esposa e eu somos grandes viajantes e estamos sempre na estrada à procura de novos desafios para nossas vidas. Eu me envolvo com várias atividades diferentes, e gosto muito de angariar fundos para obras de caridade – tenho trabalhado bastante nessa área. Dessa forma, há várias outras coisas que me mantém satisfeito fora da banda”.

Texto original em inglês: Revista Prog – Janeiro de 2016

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