Portal celebra 71 anos de Neil Peart

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Na semana de 12 de setembro, celebraremos o aniversário de Neil Peart

Autor: Tânios Acácio e André Toga

DIA 1 – 12 de setembro
DIA 2 – 13 de setembro
DIA 3 – 14 de setembro
Dia 4 – 16 de setembro

Dia 1 – 12 de setembro

1. Início da Jornada: Os Primeiros Passos de Neil Peart

Neil Ellwood Peart, nasceu em 12 de setembro de 1952 próximo à cidade de Hamilton no Canadá. Descendente de uma família humilde, mudou-se com sua família em 1954 para a cidade de Saint Catharines na região de Port Dalhousie, e lá foi educado pelos seus pais Glen e Betty, junto com suas irmãs Judy e Nancy, e seu irmão Dany. O papai Glen Peart trabalhava em uma loja de produtos agrícolas chamada Dalziel Equipment, enquanto sua mãe trabalhou por um período em um restaurante de nome Flamingo.

Desde novo, Neil demonstrou apreço enorme pela música, e recorda detalhadamente suas lembranças no livro “Música para Viagem” (Editora Belas Letras). Aos 10 anos, sua mãe lhe presenteou com um radinho de pilha, e desde então, ele criou o hábito de dormir com o aparelho no ouvido, imergindo-se assim em definitivo no mundo musical. Durante sua infância, Neil foi exposto a uma variedade de literaturas que moldaram sua imaginação, criatividade e humor. Ele se deliciava com as aventuras de “The Hardy Boys” (comparada à Coleção Vagalume popular no Brasil), e era um ávido leitor da revista “Mad”, que lhe oferecia uma visão satírica e humorística da cultura popular. O pequeno Peart também se interessava por contos clássicos, como as histórias do Rei Arthur e de mitologia grega que deram forte carga literária e influenciaram sua compreensão da jornada humana e dos arquétipos universais.

A primeira bateria de Neil Peart

Aos 14 anos, Neil Peart ganhou sua primeira bateria: uma Stewart vermelho-brilhante que custou 150 dólares canadenses. Com ela, tocou pela primeira vez as músicas “Land of a Thousand Dances” da banda canadense “The British Modbeats” e a conhecidíssima e dançante “Wipeout“. Ralph Ellison, um escritor que influenciou muito Neil, uma vez disse que um dos valores primordiais da música em nossas vidas reside no poder de nos conduzir através do tempo. Ele acreditava que a música atribui significado a todos os aspectos inexplicáveis da experiência que nos ajudam a nos tornar o que somos. Esta perspectiva foi impactante para Neil, que via a música não apenas como uma forma de expressão, mas também como uma ferramenta para entender e interpretar a vida.

Lakeside Park – Lembranças Marcantes, Um Acidente e Homenagens Atuais

Lakeside Park foi um local de extrema relevância para Neil Peart, vale lembrar como diz a própria música:”Todos se reuniam (…)/ Sentados na areia/ Para assistir a queima de fogos/ Dançando em volta das fogueiras na praia/ Cantando canções juntos/ Embora seja só uma lembrança/ Algumas lembranças duram para sempre“.
O parque ficava junto ao pier do velho canal, com vista para o farol branco e vermelho, em meio aos salgueiros e álamos frondosos, com áreas para piqueniques, e relembra no livro que os ingressos custavam apenas 10 cents.

No entanto, um dos fatos pouco conhecidos envolvendo Lakeside Park em sua vida é que aos 17 anos, Neil Peart ganhou de seu pai uma motocicleta laranjada e que em uma de suas viagens até o parque se distraiu fazendo-o colidir com um monte de areia. Ele perdeu o controle, e deslizou até bater em um fusca que estava ali estacionado. O impacto jogou Neil sobre a areia da praia, deixando como lembrança um pedaço do friso cromado pendurado onde ficava o estribo da moto. Mesmo que tenha pago o prejuízo e mantido o segredo do acidente por muito tempo, essa experiência o afastou das motocicletas pelos próximos 25 anos.

Neil Peart - Estatua - Portal Rush Brasil - Lakeside Park
Estátua de Neil Peart – Lakeside Park.
Fonte: Instagram de Morgan McDonald

Lakeside Park hoje é tão vívido na memória da fãs que foram (e são) feitas várias homenagens. Para começar, um dos pavilhões recebeu o emblemático nome: Neil Peart Pavilion. Além disso, o artista Morgan McDonald esculpiu duas estátuas imponentes que serão instaladas em Lakeside Park que representam o papel de Neil não apenas como baterista, mas como um pensador e amante de literatura.

Escultura de Neil Peart pelo artista Morgan MacDonald
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Celebrações do aniversário de Neil Peart – Dia 2 13 de setembro de 2023

Conformismo e Rebeldia nos Anos 60

Os anos 60 foram marcados por uma forte onda de conformismo, especialmente nas escolas de ensino médio. Neil relembra em “Música para Viagem” como o ambiente escolar da época era opressor, e que odos se vestiam de maneira similar com calças St-Prest, mocassins e suéter de decote V sobre camisas Oxford.

A hierarquia social era bem definida, com atletas e “membros de fraternidades” dominando o cenário estudantil. No entanto, ele descreve que ele e mais poucos colegas desafiaram esse status quo, sendo os únicos a usarem cabelos compridos. Neil Peart relembra que por volta de 1967 decidiu adotar o estilo mais despachado (na “pegada mais hippie) mesmo, trajando camisetas listradas, jeans boca de sino e mangas compridas. Com isso, começou a sofrer frequentemente preconceitos sociais, com frases, como: “temos uma garotinha aqui”?, e até mesmo a agressão física com cotoveladas e socos dos membros das fraternidades. Esses momentos de imensa desolação nos corredores da escola ecoaram por toda a vida de Neil Peart, e foram sustentáculo para composições musicais no Rush, sendo Subdivisions a mais notória:

Growing up it all seems so one-sided
Opinions all provided (…)
In the high school halls
Conform or be cast out


Ao crescer, vemos que tudo só tem um lado
As opiniões, todas prontas (…)
Nos corredores da escola
Ande na linha ou fique de fora

O Início da Carreira Musical com a JR Flood

Aos 17 anos, Neil tomou uma decisão que mudaria sua vida para sempre. Pediu aos pais permissão para se dedicar à música em tempo integral “por um ano”. Era esse o combinado, e ele deveria honrar com o combinado. Com o apoio e aprovação tanto do diretor de seu colégio quanto de seus pais, Neil embarcou em sua jornada musical.

Foi convidado para tocar na banda JR Flood, e precisava atravessar toda a cidade e pegar dois ônibus, passando por bairros bastante perigosos. Nesse contexto, percebeu que o melhor a ser feito seria adotar um novo look, e agora penteava o cabelo frisado, usava capa preta com sapatos cor púrpura. Neil relembra em sua obra literária que sua banda estava influenciada por um estilo chamado “blue-eyes soul”, originado no final da década de 60 na capital canadense. A JR Flood fez algumas apresentações e se empenhou em apresentar um repertório de composições próprias, sendo “Gypsy” e “Retribution” criadas por Neil Peart.

Embora tenha sugerido que a banda se mudasse para Toronto ou Nova York em busca de mais visibilidade, os demais integrantes não concordaram, levando Neil a tomar uma decisão importante.

Aventura em Londres

Em 1971, almejando crescer musicalmente, Neil decidiu se mudar para Londres. Ele vendeu seu toca-discos, trabalhou nos finais de semana para seu pai Glen Peart na Dalziel Equipment – uma loja de equipamentos agrícolas – e com o montante adquirido, conseguiu juntar o suficiente para sua viagem. Vale lembrar que há uma música do Rush que ilustra com perfeição esse momento de medo e aflição de partida do jovem Neil Peart à capital inglesa: “Fly by Night”. Se você tiver o disco em mãos, pegue e verá, que apesar de não ser cantada, há o seguinte trecho:

Airport scurry flurry faces
Parade of passers by
People going many places
With a smile or just a sigh
Waiting waiting pass the time
Another cigarette
Get in line – gate thirty-nine
The time is not here yet…

Rostos apressados na chegada do aeroporto
Desfile de transeuntes
Pessoas indo para muitos lugares
Com um sorriso ou apenas um suspiro
Esperando e esperando passar o tempo
Outro cigarro
Entre na fila – portão trinta e nove
O tempo não é aqui ainda…


Já na “terra da rainha”, Neil Peart trabalhou inicialmente em lojas de souvenirs, como a Great Frog, e teve a oportunidade de montar sua bateria em um dos porões das lojas, mas não logrou o sucesso que imaginava. Não muito tempo depois, o jovem Peart decidiu voltar para sua cidade, e recebeu um cargo de gerente no departamento de peças de seu pai.
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DIA 3 – 14 de Setembro de 2023

A Entrada de Neil Peart no Rush

Estamos em 1974, e o trio de Toronto Alex Lifeson, Geddy Lee e John Rutsey já havia ganhado destaque nos EUA graças ao hard rock com nuances de Led Zeppelin de seu álbum de estreia homônimo. No entanto, questões pessoais, de estilo de música e de saúde culminaram com a saída repentina de John Rutsey do Rush, e diante desse cenário, a banda abriu uma audição em busca de um novo baterista.

Neil Peart se interessou pela vaga, e chegou à audição dirigindo um Ford Pinto branco de sua mãe, com suas baterias devidamente acondicionadas em latas de lixo. Ao chegar lá, seu visual despertou estranheza nos integrantes. O baixista e vocalista do Rush o achou meio bobo e Lifeson comentou: “Lembro-me de pensar, ‘Meu Deus, ele não é nem um pouco descolado o suficiente para estar nesta banda”. Mas, apesar de seu duvidoso senso de moda, as habilidades extraordinárias de Neil surpreenderam a todos… “e então ele começou a tocar, e parecia algo como Keith Moon e John Bonham ao mesmo tempo”, confessou Lifeson.

Apesar de sempre haver essa comparação no estilo de tocar de Neil com os bateristas do The Who e do Led Zeppelin (e óbvia influência), o próprio Neil já revelou que não via bem assim, principalmente com diferenças técnicas de temperamento, senso de organização e de precisão. “O Professor” revelou uma vez que evitava a imprevisibilidade e não se sentia bem com o caos.

Quando Neil Peart entrou oficialmente no Rush

Peart se juntou oficialmente ao Rush em 29 de julho de 1974, coincidentemente no dia que Ged fez 21 anos. Embora estivesse animado por estar seguindo seu sonho, as circunstâncias não eram exatamente ideais. Peart teve pouquíssimo tempo para aprender todo o repertório ao vivo da banda antes da aguardada turnê americana. “Foi como se um tornado viesse e atingisse minha vida e a varresse”, disse Peart no documentário “Beyond the Lighted Stage”.


A nova e CLÁSSICA formação de Neil Peart no Rush é descrita com um relato bem vívido do próprio Neil em seu livro Roadshow: “Foi lá (na Civic Center Arena) que Alex, Geddy e eu tocamos no nosso primeiro show juntos, em 14 de agosto de 1974, abrindo para Mann’s Earth Band e Uriah Heep diante de cerca de onze mil pessoas. Entre as muitas lembranças daquela experiência que mudou a minha vida, jamais vou esquecer de estar de pé na lateral esquerda do palco enquanto Uriah Heep tocava “Stealin”. O enorme prédio escuro, as luzes coloridas sobre as figuras heroicas no palco, o público rugindo, a pura eletricidade daquele lugar. Na metade do show deles, o domo retrátil da Civic Arena foi recolhido, abrindo-se para a noite de verão”.

Com seu extenso repertório literário, os membros da banda perceberam seu talento nato, e que teria condições de elaborar as letras do Rush. Neil “assumiu o cargo de letrista” já no álbum Fly By Night lançado em 1975, até o último disco da carreira do power-trio: Clockwork Angels de 2012.

Reconhecimento e Legado

A combinação da técnica de bateria de Neil com suas habilidades de composição elevou o Rush a novos patamares de reconhecimento e sucesso. A banda se estabeleceu como uma das principais forças no rock, e até hoje a discussão de qual categoria se enquadra o Rush não tem consenso entre os críticos e fãs. Progressivo, metal, hard rock, space metal, new wave? Tudo isso junto? Impossível dizer, nunca haverá consenso. Rush é Rush e muito se deve dessa identidade ao gênio criativo de Neil Peart.

https://youtu.be/dxhYhoHKsB0?t=10540
O brasileiro Milton Banana – uma influência para Neil.

Ao longo dos anos, ele não apenas demonstrou uma evolução notável em sua técnica de bateria, mas também incorporou uma série de influências e inovações que o diferenciaram no mundo da música. Em “The Drummer’s Bible”, é mencionado que Neil utilizava uma variedade de estilos, desde o rock básico, passando para o jazz a ritmos latinos. Em “Work in Progress”, por exemplo, podemos ver uma clara influência do baterista Milton Banana – o Buddy Rich
O baterista do Rush também era conhecido por sua habilidade de tocar padrões complexos e mudar de ritmos com facilidade, e em músicas como “Tom Sawyer” e “YYZ”, sua maestria é claramente evidente com ritmos de alto grau de complexidade, mudanças de tempo e uso inovador de percussão.

DIA 3 – 16 DE SETEMBRO PARTE FINAL

Influências Musicais e Curiosidades sobre Neil Peart

Ao longo de sua carreira, Neil foi influenciado por uma variedade de artistas e gêneros como Don George e Freddie Grubber, Buddy Rich e Keith Moon, e frequentemente se voltava para o jazz, apreciando artistas como Miles Davis e Bill Bruford. Outras influências mais populares como os Beatles foram menores, como ele confessa em sua obra literária, já que percebia que a banda de Liverpool não tinha a mesma rebeldia que ele buscava.

Com a profundidade de seu repertório musical, ele criou um universo à parte, “é o que acontece quando você deixa o baterista assumir as letras” diria jocosamente Dave Grohl do Foo Fighters sobre o baterista do Rush na noite em que o power trio foi oficialmente inserido no Hall do Fama do rock n roll em 2013. Neil escreveu sobre história, filosofia, formação do universo, guerra entre deuses na galáxia, solidão, timidez, heroismo, amizade, política, repressão, morte, vida (a lista é incalculável). Além de um intelecto espetacular e um baterista excepcional, o empresário do Rush Ray Danniels o considerava um atleta, Alex Lifeson um estoico. No documentário Time Stand Still que trata da última turnê da banda – R40 – é possível ver o porquê desses dois pontos de vista. Neil machucou o pé e um fungo se deu origem a um eczema, psoríase e infecções bacterianas que lhe causaram uma dor quase insuportável: “No final, eu estava andando sobre dois tocos em carne viva (…) tocar bateria era angustiante” disse ele. Danniels disse que seu profissionalismo era tão impressionante que confabulou: “se um sniper aparecesse no meio do show e desse um tiro nele, Neil ignoraria a dor e continuaria a tocar bateria sem cessar”.

E agora? Morte e Legado de Neil Peart.

Neil Peart faleceu em 7 de janeiro de 2020, e deixou um legado extraordinário. Ele foi além da música, foi um pensador, escritor e até mesmo atleta (como bem definiu Ray Danniels). Os temas em suas escritas são atemporais. O escritor Bradley J. Birzer no livro ainda não lançado no Brasil “Neil Peart: Repercussões Culturais: um exame completo das palavras e feitos de Neil Peart, homem de letras e baterista extraordinário da banda de rock” (tradução do Portal) defende a tese de que Neil desejava que cada pessoa perseverasse através de provações individuais, encontrasse dons e habilidades únicos e, em última análise, alcançasse sua verdadeira felicidade. Peart não professava tais coisas; ele as viveu.

O eterno baterista do Rush confessa em um dos seus livros que havia uma pergunta que sempre rondava sua mente: “E agora?” Em toda sua vida essa frase despertou sua curiosidade e uma motivação irresistível para fazer e aprender coisas, visitar lugares, buscar mais e mais de tudo o que há para fazer, ver e experimentar.

É verdade que Neil nos deixou, nos ensinou muito e de alguma forma… continua nos ensinando.

Tânios Acácio - Criador do Portal Rush Brasil

Tânios Acácio – Criador do Portal Rush Brasil.
Tânios se dedica a produzir conteúdos sobre o legado irreprochável do Rush, e se considera um fã não-idealista do maior power trio da história do rock. Vê o Rush como um princípio de vida.



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