The Trees

As Árvores

There is unrest in the Forest
There is trouble with the trees
For the Maples want more sunlight
And the Oaks ignore their pleas.

The trouble with the Maples
(And they’re quite convinced they’re right)
They say the Oaks are just too lofty
And they grab up all the light
But the Oaks can’t help their feelings
If they like the way they’re made
And they wonder why the Maples
Can’t be happy in their shade?

There is trouble in the Forest
And the creatures all have fled
As the Maples scream ‘Oppression!’
And the Oaks, just shake their heads

So the Maples formed a Union
And demanded equal rights
‘The Oaks are just too greedy
We will make them give us light’
Now there’s no more Oak oppression
For they passed a noble law
And the trees are all kept equal
By hatchet,
Axe,
And saw…

Há inquietação na Floresta
Há problemas com as árvores
Pois os Bordo querem mais luz do sol
E os Carvalhos ignoram seus pedidos.

O problema com os Bordo
(E eles estão bem convencidos de que estão certos)
Eles dizem que os Carvalhos são muito altivos
E eles capturam toda a luz
Mas os Carvalhos não podem evitar seus sentimentos
Se eles gostam da maneira como são feitos
Eles se perguntam por que os Bordo
Não podem ser felizes na sombra deles?

Há problemas na Floresta
E as criaturas todas fugiram
Enquanto os Bordo gritam ‘Opressão!’
E os Carvalhos apenas balançam as cabeças

Então os Bordo formaram um Sindicato
E exigiram direitos iguais
‘Os Carvalhos são muito gananciosos
Nós os faremos nos dar luz’
Agora não há mais opressão dos Carvalhos
Pois eles aprovaram uma nobre lei
E as árvores são todas mantidas iguais
Por machado,
Serrote,
E serra…

The Trees

Musicalmente, a canção é uma aula de como o Rush conseguia ser acessível e complexo ao mesmo tempo. Ela começa com uma suave e melódica introdução em violão clássico, tocada por Alex Lifeson , um reflexo do trabalho árduo do guitarrista em expandir suas habilidades. Em seguida, a música explode em um rock vibrante, navegando por diversas assinaturas de tempo (4/4, 6/8 e 5/4) de forma tão fluida que o ouvinte nem percebe a complexidade. “The Trees” serve como uma ponte perfeita entre o som épico de 2112 e o experimentalismo total de Hemispheres , prenunciando o equilíbrio perfeito entre o prog e o pop que a banda viria a dominar em Permanent Waves e Moving Pictures .

Em meio a uma discografia repleta de épicos conceituais e peças instrumentais complexas, poucas canções do Rush conseguem ser tão imediatamente reconhecíveis e cheias de camadas quanto “The Trees”. Lançada no álbum Hemispheres (1978), a faixa parece, à primeira vista, uma fábula infantil sobre a natureza. No entanto, por trás da história de árvores briguentas, esconde-se uma das mais perspicazes e complexas alegorias escritas por Neil Peart , cujos significados se expandiram para além de suas intenções originais, tocando em temas que vão da política à filosofia, mesmo que ele por toda sua vida tenha evitado o assunto.

A ideia para a letra surgiu de uma forma inesperada e, como o próprio Neil Peart revelou, de forma quase “burlesca”. Ele conta que, ao ver uma simples imagem de desenho animado de algumas árvores, teve uma epifania. A partir desse lampejo criativo, a letra de “The Trees” foi escrita em apenas cinco minutos, a mais rápida que ele já compôs. Essa origem lúdica contrasta diretamente com a profundidade que a canção viria a adquirir, provando que as ideias mais complexas muitas vezes nascem das faíscas mais simples. Mas se formos analisar de forma mais objetiva (ou objetivista), veremos que havia uma crítica direta à utopia igualitária.


Contexto Histórico

O álbum Hemispheres foi lançado em 1978, e neste período, temos Neil sendo influenciado pela filosofia objetivista da escritora russo-americana Ayn Rand que enfatizava a razão, o individualismo e o livre mercado. Neil Peart era um grande admirador e citou a filósofa como uma influência importante em suas letras e a canção utiliza a metáfora de árvores que lutam por espaço, uma forma de ilustrar a eterna disputa entre os indivíduos e a sociedade. A filosofia de Rand se baseia na crença de que a razão é a principal fonte de conhecimento e que o indivíduo deve ser livre para buscar sua própria felicidade sem ser coagido por terceiros.

Através de sua narrativa, a música apresenta uma crítica ao preceito da “falsa igualdade” que pode ser interpretada como a tentativa da sociedade de limitar o crescimento e a realização de indivíduos talentosos para supostamente beneficiar a maioria. Para quem leu as obras: O Cântico, A Nascente e A Revolta de Atlas ou A Virtude do Egoísmo perceberá que o indivíduo é a base vernacular no pensamento de Rand.


“The Trees” em Praga – Uma pista sobre a intenção da música

A apresentação de “The Trees” na capital tcheca, Praga, em 2004, durante a turnê R30 para mais de 7 mil pessoas, oferece uma perspectiva vívida de como a letra de Neil Peart era interpretada — e ressoava — em um contexto de história política real, reforçando sua intenção original como crítica ao coletivismo. O baterista do Rush comenta em seu livro Roadshow – Volume 2: Paisagens e Bateria que percebeu que qualquer pessoa no público com mais de quinze anos havia “vivido sob o jugo do comunismo” e parecia “extremamente grato” simplesmente pela presença da banda em Praga. Por fim, para retirar qualquer dúvida, Neil comenta que o empresário do Rush, Ray Danniels, estava presente durante o intervalo, e disse estar emocionado ouvindo a gente tocar “The Trees” num antigo país comunista.

So the maples formed a union, and they passed a noble law / Now the trees are all kept equal, by hatchet, axe, and saw

Então os bordos criaram um sindicato, e eles passaram uma lei nobre / Agora as árvores são mantidas todas iguais, por meio de lâminas, machados e serras.


Por que a questão sobre The Trees levanta tanta polêmica

Respondendo de forma bastante direta: porque o Rush manteve uma carreira pouco politizada, ainda que as músicas tenham encaminhado para esse lado. Quando o Portal Rush Brasil cobriu a entrevista da DJ Donna Halper para UCS-FM em 2020, o assunto veio à tona. Flavia Vidor e Candice Soldatelli (tradutora dos livros do Rush no Brasil) perguntaram:

“Donna, você já disse que o Rush nos ensina a tomar decisões pela razão e pela lógica, mas muitas pessoas tomam decisão baseadas na emoção, e isso pode causar problemas mais tarde. Há fãs liberais, conservadores, alguns que amam Donald Trump, e outros que odeiam o cara, mas o Rush reúne as pessoas. Como isso é possível, Donna? Qual é a fórmula para um fã do Rush amar Trump, quando a gente tem letras tão fortes como The Trees?”

Donna com muita classe respondeu:

“A música é uma linguagem universal. É como se fôssemos ao cinema, e cada um fala algo de sua própria perspectiva… cada um traz a própria lente, os próprios ouvidos. A música une isso tudo, mas a interpretação acaba sendo bastante diferente para cada um.”


O que é honesto de dizer sobre “The Trees”?

É verdade dizer que no final da década de 70, período que “The Trees” foi composta, Neil estava mergulhado na filosofia objetivista de Ayn Rand. Além disso, o relato do show em Praga na turnê R30 em sua biografia, mostra que Neil percebeu a emoção do público que tinha vivido um regime autocrático no passado, e a emoção do próprio empresário do Rush pela realização do show na capital da República Checa.

Também é correto afirmar que a banda buscou se afastar da associação do objetivismo egoísta de Ayn Rand, como por exemplo disse Geddy Lee em entrevista ao site Vulture.com:

“Havia algumas coisas sobre as quais cantávamos quando tínhamos vinte e poucos anos que pareciam muito importantes. Mas com o passar do tempo, você melhora essas opiniões porque a vida lhe ensina que não é tão simples. Depois de encontrar problemas e começar a ajudar sua família ou amigos com alguns deles, você aprenderá muito sobre quanto da vida foi vivido nas áreas cinzentas, em oposição às áreas pretas e brancas.”

Por fim, vale lembrar que Neil afirmou não ser discípulo de ninguém, e acreditar que o indivíduo é primordial em questões de justiça e liberdade, mas em filosofia, como Aristóteles disse há muito tempo, o bem supremo é a felicidade. Sua autodeterminação como indivíduo faz parte da busca pela felicidade, em que se descrevia como um “libertário de coração mole”.


Fontes: