Capítulo “O Poder do Pensamento Mágico” revela baterista do Rush perdido em Santa Catarina.

Por: Tânios Acácio

Em 8 de outubro de 2010, o Portal Rush Brasil teve a honra de cobrir o show do Rush da turnê Time Machine em São Paulo, a convite da MTV. Foi um dia histórico para todos nós. Dois dias depois, o power trio canadense faria sua última apresentação em solo brasileiro da turnê, marcando também a última performance da banda na “Cidade Maravilhosa”. Quem trabalha nos bastidores sabe a imensa dedicação necessária para que uma grande produção aconteça sem contratempos. No entanto, pouco se falou sobre a viagem épica de Neil Peart que partiu de moto de Campinas/SP rumo à Argentina, e depois seguiu até Santiago no Chile.

No livro “Longe e Distante“, o baterista do Rush descreve que ele, e seu leal amigo Brutus percorreram impressionantes 37.227 quilômetros em suas motos BMW R1200 GS, enfrentando desafios e descobrindo a beleza e a diversidade do continente. De longe, seu segurança (e amigo) Michael rastreava os dois motociclistas na rota que se iniciou em Campinas, passando também pelo Rio de Janeiro, Petrópolis, Curitiba, Santa Catarina e São Borja, no Rio Grande do Sul, antes de cruzarem a fronteira para a Argentina.

(…) “sonhar, ousar, esperar pelo melhor” não é baseada na razão: é um tipo de fé que me leva a acreditar que serei capaz de conseguir algo com o qual ouso sonhar”.

Durante a viagem, Peart e Brutus enfrentaram imensas dificuldades de navegação, especialmente quando o dispositivo de GPS, carinhosamente apelidado de Treco (ou Dingus em inglês), começou a falhar reiteradamente. Em um desses momentos, eles se encontraram perdidos em uma estrada de terra em solo no oeste catarinense. A situação se complicou quando perceberam que haviam perdido a entrada para a ponte que precisavam cruzar. Eis que surge a pequena (e aconchegante) cidade de Itapiranga, onde encontraram abrigo no Hotel Mauá. Neil faz elogios ao lugar e a estrada brasileira”Ainda assim, era limpa, bonita, amistosa, com acomodações e refeições perfeitamente adequadas, além de estar localizada no final de uma das estradas mais lindas onde já andei de moto. Mais do que tudo, pareceu um milagre que tenhamos encontrado Itapiranga justamente ao entardecer de um dia longo e cansativo. Não havia nenhum lugar para irmos – e lá estava ela.”

Itapiranga, com seus 13 mil habitantes na época, foi um alívio bem-vindo para Peart e Brutus. Após se instalarem no Hotel Mauá, eles saíram para jantar em um restaurante local. O baterista do Rush pediu ao garçom que anotasse os nomes dos artistas e escrevesse em seu diário pessoal (quem será que foi, hein?), uma prática que ele mantinha para registrar suas experiências. A hospitalidade e a simplicidade do lugar deixaram uma impressão duradoura em Peart, que valorizava esses momentos de conexão com a cultura local.

A estadia no Hotel Mauá foi essencial para que Peart e Brutus pudessem descansar e planejar a próxima etapa da viagem já partindo para outro Estado. Brutus, com seu português improvisado, conseguiu informações valiosas dos moradores locais sobre uma balsa localizada em São Borja no Rio Grande do Sul que poderia levá-los para o outro lado do rio, evitando horas de volta.

Neil Peart e Brutus chegam na Argentina

(…) “a diferença era impressionante”.

Na Argentina, a viagem continuou com novas aventuras e desafios. Peart e Brutus enfrentaram estradas mal mapeadas e tiveram que confiar em mapas de papel e na orientação dos locais para seguir em frente. “O Professor” também fez um interessante comparativo entre o Brasil e a Argentina da perspectiva dos hoteis: “Encontramos refúgio para a noite numa cidade meio decadente às margens do rio Uruguai, Paso de los Libres. Do outro lado do rio estava a brasileira Uruguaiana, uma cidade grande com edifícios modernos e muitas luzes refletindo na água. Não chega a ser um contraste tipo Ciudad Juárez-El Paso, mas a diferença era impressionante”.

Neil destaca que a monumental arquitetura da cidade de Buenos Aires, como também o público de 10 pessoas presentes ao show do Rush em Buenos Aires: “enorme e vibrante em suas palavras”, no entanto, relata que o estádio GEBA (palco da primeira Copa América realizada em 1910) era: “um velho estádio esquálido com camarins improvisados“.

Neil Peart no Chile. Homenagem do Rush aos mineiros chilenos.

Partindo para o Chile, Peart e Brutus chegaram em um momento histórico: o resgate de todos os 33 mineiros da mina de San José que ficaram soterrados por incríveis 69 dias a exatos cinco dias antes do show do Rush. Peart descreve a emoção de estar no país durante esse evento, que foi um símbolo de esperança e resiliência. Ele relata como o país estava unido em torno do resgate, e como isso impactou sua própria percepção de “pensamento mágico” – a crença de que, com esperança e esforço, coisas extraordinárias podem acontecer.

O Rush fez uma homenagem aos mineiros chilenos com a canção “Stick it Out” do álbum Counterparts. A letra aborda temas de perseverança e resiliência diante das adversidades. A expressão “stick it out” pode ser traduzida como “aguentar firme”, e a canção tocada com imagens no telão dos heróis nacionais fez o público ficar emocionado. Alex Lifeson ainda fez questão de colocar o número 33 em sua guitarra, simbolizando o número da equipe de mineiros. Uma curiosidade, o guitarrista do Rush jantou um dia antes com Michael Dumay – baterista da banda cover chilena Hsur – que lhe deu mais detalhes sobre a história do mineiros… além de se divertirem a beça é claro.

Para Peart, o “pensamento mágico” não se refere a crenças sobrenaturais, mas sim à capacidade humana de sonhar, ousar e esperar. Ele acreditava que, apesar dos desafios e incertezas, a combinação de preparação, improvisação e um pouco de sorte poderia levá-los a realizar seus sonhos.

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Fonte e fotos: Artigo “Neil Peart’s News, Weather And Sports. The Power Of Magical Thinking.
NeilPeart.net, November 2010 do site 2112.net
Youtube: LosVagos FC

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